domingo, 8 de abril de 2012

Como reduzir seus níveis de Trigliceridios sem remédios



Dando continuidade ao assunto do post anterior, discutirei aqui abordagens práticas ,não farmacológicas, para reduzir o nível de triglicérides e aumentar o nível de HDL, melhorando assim a relação Triglicérides/HDL, importante fator de risco de doença cardiovascular.
Triglicerides constituem a forma como o colesterol é armazenado no organismo.
Nosso organismo transforma os carboidratos que ingerimos em glicose, que pela ação da insulina vai entrar na célula para ser utilizada na produção de energia. O excedente de glicose na circulação, volta para o fígado e é convertido em glicogênio. O glicogênio também pode ser armazenado no músculo. Uma vez alcançada a capacidade de conversão de glicose em glicogênio, o fígado começa a produzir triglicérides, que começam a circular na corrente sanguinea, sendo também armazenados nas células de gordura(adipócitos). O corpo humano tem um espaço quase ilimitado para o armazenamento dos triglicérides(vísceras, gordura, vasos, etc). Os triglicérides não armazenados, permanecem na circulação. Estes são os mais problemáticos. Eles alteram a viscosidade sanguínea e deixam o sangue mais “espesso”, tornando a circulação mais lenta e facilitando a aterogênese(processo de obstrução do vaso sanguineo pela formação da placa ateroescerótica). Por isso é tão importante manter os níveis de triglicérides baixos (idealmente abaixo de 150)
Como mencionei anteriormente, reduzindo os níveis de triglicérides, quase invariavelmente teremos um aumento do HDL(colesterol com efeito protetor). Como afirmamos, os triglicérides são diretamente influenciados pelo que você come. Qualquer coisa que aumente os níveis de glicose no sangue, irá potencialmente aumentar também os triglicérides. Por isso deve-se reduzir a ingesta de qualquer coisa que aumente demasiadamente os níveis de glicose no sangue.
A maioria dos adultos sedentários e acima do peso tem níveis baixos de HDL e/ou elevados de triglicérides. Consideramos niveis ótimos de HDL acima de 60. Niveis de HDL abaixo de 40 cursam com aumento significativo de risco cardiovascular.

O que podemos fazer para reduzir os níveis de triglicérides?

1. Reduza drasticamente ou elimine o açúcar: O açúcar(sacarose) explicito ou em alimentos(doces, molhos, refrigerantes, sucos, etc) favorece o rápido aumento dos triglicérides em muitas pessoas.

2.  Reduza drasticamente ou elimine o álcool: etilismo é um importante fator que influencia o aumento dos triglicérides. Para indivíduos sensíveis, até ingesta moderada pode interferir negativamente. O tipo de bebida utilizada (cerveja, vinho, whisky, etc) parece não fazer muita diferença em relação a este aspecto.

3.  Reduza drásticamente ou elimine o trigo e derivados. Isto inclui todos os derivados das farinhas refinadas do trigo(pão, bolos, biscoitos, massas, etc). Sim, até o consumo dos chamados “saudáveis integrais” favorecem a redução do HDL e aumento de triglicérides.

4.  Pode ser Necessário emagrecer: A redução de peso com diminuição do percentual de gordura na composição corporal pode ter um efeito importante na redução da taxa de triglicérides, principalmente em portadores de resistência à insulina(pré diabetes). Os pacientes com obesidade central, aqueles com níveis de triglicérides altos e circunferência abdominal maior ou igual a 102 cm, parecem responder melhor à perda de peso. Estes pacientes respondem ainda melhor quando a perda de peso é associada a um aumento na atividade física. 

5.  Suplementação com ácidos graxos ômega 3: Já comentamos em outros posts como a ingesta de fontes de ácidos graxos ômega 3 está reduzida na sociedade moderna. Os ácidos graxos omega 3 podem ajudar a reduzir os níveis de triglicerides  e também reduzir a elevação pós prandial das lipoproteínas  que podem causar degradação do HDL. Desse modo, o HDL tende a subir com aumento da ingesta de ômega 3. 

6.  Suplementação de Vitamina D– Níveis baixos de vitamina D também podem estar associados a níveis altos de triglicérides. Com a adequada suplementação de vitamina D e maior exposição à luz do sol, os níveis de vitamina D podem normalizar. O efeito pode ser lento, mas costuma ser considerável. Vários pacientes parecem ultrapassar seu teto habitual de HDL apenas após reestabelecer níveis ótimos de vitamina D

Outros fatores como a atividade física aeróbica, fibras solúveis, antioxidantes polifenólicos do chá verde, resveratrol da uva, flavonóides do cacau e vitamina B3(niacina) em doses terapêuticas podem ajudam a elevar significativamente os níveis de HDL. A implementação das medidas recomendadas é suficiente para resolver a maioria dos casos de triglicérides elevados/HDL baixo.
   

sábado, 26 de novembro de 2011

O melhor parâmetro laboratorial para prever um infarto do miocárdio



Em se tratando de parâmetros laboratoriais para avaliar  risco para doença cardiovascular, hoje está ficando bem claro que o colesterol total não é, nem de longe, o mais importante. A literatura cientifica mais recente tem apontado que associação de triglicérides alto com baixos níveis de HDL, que recebe o nome de dislipidemia aterogênica, é provavelmente o mais eficiente em prever o risco para um infarto cardíaco.

As partículas de colesterol HDL, chamado de o “bom” colesterol, tem papel protetor e tem potente ação antioxidante. Altos níveis de HDL tem sido associados com menor risco de câncer e doença coronariana.

Análises recentes tem demonstrado que níveis aumentados de triglicérides (hipertrigliceridemia) também é um fator de risco independente  para infarto, e pode ser mais importante entre mulheres que entre homens.

Sabemos que sempre que os triglicérides sobem, o HDL cai. Portanto uma das melhores estratégias de aumentar o HDL, é reduzir os triglicérides. O ideal é que a relação Triglicérides/HDL seja menor que 2 (basta dividir o valor dos triglicéridios pelo valor do HDL). Assim:

Trigliceridios/HDL ≤ 2:  Ideal
Trigliceridios/HDL ≥ 4  Alto
Trigliceridios/HDL ≥ 6  Muito alto

De maneira geral, quanto menor esta relação, melhor(menor risco de doença coronariana e infarto). Em estudo conduzido pela universidade de Harvard, níveis elevados de trigliceridios sozinho aumentou o risco de infarto em 3 vezes. A relação Trigliceridios/HDL  aumentou em 16 vezes o risco de infarto em relação aos que tinham menores valores de relação Trigliceridios/HDL.

No próximo post falaremos estratégias não farmacológicas para aumentar o HDL e reduzir os Triglicerides.

FONTES:
1. Vera Bittner, MD, MSPH; B. Delia Johnson, PhD; Issam Zineh, PharmD; William J. Rogers, MD; Diane Vido, MS; Oscar C. Marroquin, MD; C. Noel Bairey-Merz, MD; George Sopko, MD. The Triglyceride/High-Density Lipoprotein Cholesterol Ratio Predicts all-Cause Mortality in Women With Suspected Myocardial Ischemia: A Report From the Women's Ischemia Syndrome Evaluation (WISE). American Heart Journal. 2009;157(3):548-555.

2. Gaziano JM, Hennekens CH, O’Donnell CJ, Breslow JL, Buring JE. Fasting triglycerides, high-density lipoprotein, and risk of myocardial infarction. Circulation 1997;96:2520-2525.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A soja e suas controvérsias


Hoje vamos falar de soja. Provavelmente você só terá ouvido maravilhas deste vegetal. Vou confessar algo para meus leitores: estudar mais a fundo a questão da soja na alimentação para preparar este post para o blog foi uma experiência enriquecedora e surpreendente de muitas maneira. A impressão que fica é de que poucos alimentos tem despertado tantas controvérsias, e uma relação tipo amor x ódio tão contundente quanto a soja. De forma que quando você examina as evidências científicas, até para quem está acostumado aos protocolos da metodologia científica, não é de nenhuma forma fácil separar o joio do trigo.

A cultura da soja e suas controvérsias

O Brasil é o segundo maior produtor e exportador mundial de soja, atrás apenas dos EUA. Do Rio Grande do Sul ao Norte Nordeste do Brasil, o grão se espalhou, ganhou o chão e está mudando radicalmente a paisagem em diversos biomas
Utilizada principalmente no fabrico de ração de animais e na produção de agrocombustível, a soja tem diversas utilidades, além de estar sendo utilizada largamente na alimentação animal e humana.

A cultura da soja no Brasil tem sido questionada por ambientalistas e ativistas sociais pelos estragos ecológicos e danos à população local, na medida em que se adentra em biomas como cerrado e Amazônia e, indiretamente, pantanal. Junto com pesquisadores, eles questionam o modo de produção voltado ao mercado externo, baseado na grande propriedade e no uso intensivo de agrotóxicos. Segundo os ambientalistas, a soja no país continua distante dos padrões de produção para merecer o rótulo de sustentável ou responsável.
Na América Latina, as fronteiras agrícolas da produção de soja estão sendo agressivamente expandidas em todas as direções numa velocidade estonteante. Estimulados pelo imperativo exportador sob a forma de incentivos governamentais, os campos de soja avançam sobre as florestas e savanas de uma forma nunca antes vista. Abaixo são apresentadas algumas das  implicações que este modelo de monocultura e o suporte tecnológico associado representam para o ambiente, os agricultores e as comunidades:

  1. A cultura da soja tem contribuído decisivamente para o desflorestamento no Brasil
  2. A cultura da soja está expulsando os pequenos agricultores de suas terras. Os censos agropecuários têm confirmado a relação entre a expansão da soja e a concentração fundiária no Brasil e outros países.
  3. O cultivo da soja degrada o solo e produz impactos ecológicos enormes.  Os pesticidas, largamente empregados na cultura da soja, também causam grandes problemas de poluição do solo e da água, eliminação da biodiversidade e envenenamento humano.


Não vou me aprofundar nestes tópicos, pois isto fugiria ao escopo deste blog, no entanto creio que todo consumidor consciente deve também levar em conta estes aspectos ao optar pela soja e derivados.

As controvérsias da soja na alimentação
A soja tem sido amplamente promovida pela indústria de alimentos, autoridades médicas e governos como um alimento saudável e como alternativa para substituir a proteína animal provenientes do ovo, carnes, leite, etc. Para muitos, a soja é inclusive considerada um alimento funcional (aqueles que quando incorporados na rotina alimentar ajudam a prevenir doenças), apresentando um efeito positivo no sistema cardiovascular, na redução do colesterol , hipertensão arterial, densidade óssea das mulheres menopausadas, e prevenção de alguns tipos de câncer hormônio dependentes(mama, endométrio, ovário) pela ação dos chamados fitoestrógenos (genisteina, daidzeina, etc) que atuariam como moduladores da ação do estradiol no organismo. Por outro lado, um número significativo de cientistas e escritores estãolevantando questionamentos acerca de efeitos adversos da soja , citando dados da literatura cientifica a partir da década de 60 e relatos clínicos.

A soja chegou a nós do oriente, e há relatos do seu cultivo na China durante a dinastia Chou (1134 - 246 AC), no entanto, só após o descobrimento das técnicas de fermentação, muito tempo depois é que ela foi utilizada como alimento. Os primeiros produtos fermentados da soja foram o Tempeh, natto e misô. Os orientais, ao contrário que muita gente pensa, nunca foram grandes consumidores do grão de soja, pois desde há muito é conhecido por eles que o feijão soja possui grandes quantidades de substâncias nocivas ao organismo.

Fatores antinutricionais na soja

A soja é uma leguminosa de alta qualidade protéica, porém, o seu uso na alimentação está condicionado à inativação de sustâncias antinutricionais do grão. Estes fatores comprometem a biodisponibilidade protéica, inviabilizando o consumo do grão in natura. A soja é uma leguminosa que apresenta alto valor nutricional. Os grãos possuem 30% de carboidratos, dos quais 15% é de fibra; 18% de óleo, principalmente do tipo poliinsaturado; e 38% de proteínas ricas em aminoácidos essenciais . Devido as suas características benéficas, a soja passou a ser amplamente utilizada em todo o mundo. Entretanto, os grãos contêm uma variedade de fatores antinutricionais que podem provocar efeitos fisiológicos adversos ou diminuir a biodisponibilidade de nutrientes.

Dentre os fatores antinutricionais termolábeis encontram-se os inibidores de proteases, lectinas, hemaglutininas, fatores bociogênicos, antivitamínicos e antiminerais (fitatos). As isoflavonas, os fatores de flatulência, alergênicos, lisinoalanina e saponinas são termoestáveis, ou seja não são inativadas pelo calor. Os primeiros, embora classificados como termolábeis, não são completamente desativados durante um cozimento rápido e podem ocasionar a redução da digestibilidade das proteínas da dieta e conseqüente deficiência na absorção de proteínas.

Soja também contém fitatos, que interferem na absorção de minerais como cálcio, ferro e zinco no intestino delgado.

Os Fitohormônios na soja

Os fitohormônios(isoflavonas) presentes na soja e derivados podem atuar como “disruptores endócrinos” alterando o delicado equilíbrio dos hormônios. Sabe-se que bebês alimentados exclusivamente com leite de soja (800 ml a 1 litro por dia) recebem megadose de fitoestrógenos, cuja concentração chega a ser de 13000 a 22000 vezes maior que o normal e , o que pode estar diretamente implicado no desenvolvimento sexual precoce das meninas e tardio dos meninos.

As isoflavonas da soja também podem deprimir a função tiroideana e causar bócio(aumento da tiróide) em adultos ou crianças. Embora os cientistas tenham conhecimento deste efeito há décadas, só recentemente foi identificado os componentes da soja responsáveis: os chamados fitohormônios(genisteina, daidzeina, etc.)

Esta descoberta causou bastante impacto no marketing da soja, que promovia abertamente estes fitoestrógenos como substâncias alegadamente protetoras contra doenças cardiovasculares, câncer, osteoporose e sintomas da menopausa. Sabe-se que a deficiência de iodo aumenta significativamente este efeito antitiroideano da soja, enquanto que a suplementação de iodo na dieta tem um efeito protetor.
O consumo diário de apenas 30g de soja por dia(que contém aproximadamente 38 mg de isoflavonas) pode ser suficiente para deprimir a função da tireóide. Isto é menos da quantidade de fitoestrógenos encontrada em 2 copos de leite de soja ou 2 porções de tofu por dia.

Os alegados beneficios cardiovasculares da soja

Vários estudos tem mostrado  que o consumo regular de soja e derivados melhora o perfil lipídico,reduzindo o colesterol total, triglicérides  e o colesterol LDL (“colesterol ruim”).No entanto, não há estudos avaliando eventos cardiovasculares(incidência de infartos, AVC, etc). na população estudada.
Digno de nota é o fato de que a American Heart Association (Associação americana de cardiologia) em Janeiro de 2006 reformulou seu ponto de vista a respeito da soja como fator de prevenção de doenças cardiovasculares. Em 2000, a American Heart Association recomendava que a soja fosse incluida em uma dieta pobre em gordura saturada e colesterol. Esta recomendação corroborava com o FDA, que aprovou  veiculação da alegação de que 25g de soja por dia associados a uma dieta com baixo teor de gordura saturada e colesterol preveniria doença cardíaca. Contudo, evidências crescentes de que a soja , de fato, não reduz o colesterol e outros fatores de risco para doença cardiovascular, levaram a American Heart Association a destacar um comitê para reconsiderar a evidência.Após análise de 22 estudos, este comitê concluiu que quando utilizada em grandes quantidades a soja poderia reduzir o colesterol LDL, porém não apresentava efeitos sobre o HDL, Triglicérides, Lipoproteina a ou pressão arterial. O painel também concluiu que nem a proteína de soja, nem as isoflavonas não são eficientes em reduzir os sintomas da menopausa(fogachos) ou prevenir câncer de endométrio ou próstata. A AHA recomenda enfaticamente ao público que não tome suplementos de isoflavonas de soja, haja visto que a eficácia e seguraça ainda não foram estabelecidas.

A quem interessa promover a soja

É interessante observar como um produto que, no mundo ocidental, até pouco tempo atrás somente servia para produzir óleo e, com o bagaço, alimentar animais, e mesmo assim com ressalvas, tornou-se em pouco tempo a coqueluche dos nutricionistas do século XXI. Em pouco
mais de 30 anos, a soja ganhou imenso destaque, pois alguns estudos apontam uma série de potenciais benefícios para a saúde.
Maior produtor mundial de soja e sede dos maiores gigantes do ramo, o mercado norte-americano para produtos derivados da soja é objeto de investimentos multimilionários em comunicação para convencer uma geração de pessoas ávidas por saúde e bem-estar que a soja é a resposta para tudo. Óleo de soja, biodiesel e farelo são comodities e, para os gigantes
do  ramo,   é   interessante criar novos mercados para produtos de maior valor comercial.
Não se pode, porém, esquecer o fato que estão presentes na soja dois grupos de inibidores de proteases e que alguns estudos demonstram que o tratamento térmico pode não ser suficiente para a inativação completa desses antinutrientes.
Esses   inibidores  podem afetar  a digestibilidade da proteína e a absorção e biodisponibilidade de alguns minerais, como o ferro, zinco e cálcio por exemplo. Também não se  pode  dizer,   sem as  devidas considerações, que a soja é consumida há milhares de anos pelos povos asiáticos; sim,é consumida, porém na maioria dos casos na forma de produtos fermentados (natto, miso, tempeh, molhos, tofu e leite de soja fermentados) e, como parte de uma dieta alimentar   rica  em  vegetais ,  ou   seja, totalmente diferente das dietas ocidentais.
Os  avanços   tecnológicos  que ocorreram no processamento da soja eliminaram  total  ou  parcialmente  os antinutrientes e é indiscutível que as isoflavonas têm aplicações interessantes para a saúde. O que também deve-se ter em mente   são os   interesses  econômicos gigantescos que estão em jogo e o fato que é muito mais interessante fazer crescer a demanda dos  derivados de   reprocessamento  - após extração de óleo -, para  consumo humano,  do que simplesmente repassar tortas e farelos para o mercado de nutrição animal.


Para maior aprofundamento no tema sugerimos a leitura do livro:

Fontes consultadas:

Anderson JW, Johnstone BM, Cook-Newell ME. Meta-analysis of the effects of soy protein intake on serum lipids. N Engl J Med 1995;333(5):276-82.

Henkel J. Soy: Health Claims for Soy Protein, Questions About Other Components. FDA Consumer magazine 34(3);2000.

Feldman, A. 2004. Soja – A História não é bem assim. Disponível em http://www.correcotia.com/soja/soja-feldman.htm. 

Irvine CH and others. Daily intake and urinary excretion of genistein and daidzein by infants fed soy- or dairy-based infant formulas. Am J Clin Nutr 1998 Dec;68(6 Suppl):1462S-1465S. 

Joseph J Rackis, et al, "The USDA trypsin inhibitor study. I. Background, objectives and procedural details," Qualification of Plant Foods in Human Nutrition , 1985, volume 35

Hutchins AM, Slavin JL, Lampe JW. Urinary isoflavonoid phytoestrogen and lignan excretion after consumption of fermented and unfermented soy products. J Am Diet Assoc. 1995 May;95(5):545-51.

Fundação Weston Price http://www.westonaprice.org/



domingo, 3 de julho de 2011

Alto nível de fosfatos nos refrigerantes está relacionado a envelhecimento prematuro, arterioesclerose e doença cardíaca.




Não tenho nenhuma dúvida de que todos os fenômenos que estão acontecendo neste momento no universo obedecem a uma lei de causa e efeito. No entanto, a maior parte do sofrimento humano advém do fato de nós não reconhecermos esta relação na maioria dos eventos que constituem o que chamamos de “vida”. 

Bem, dito isto, quero comentar aqui dois trabalhos científicos que começam a tirar o véu sobre o efeito deletério que o consumo regular de bebidas tipo refrigerantes pode ter na saúde das pessoas. Este efeito é atribuído principalmente ao alto nível de fosfatos nos refrigerantes (e também em menor proporção em alimentos processados, laticínios, salsichas, etc) que pode acelerar os sinais do envelhecimento biológico e aumentar a velocidade do processo de arterioesclerose (endurecimento e calcificação das paredes das artérias), conhecida causa de doença cardiovascular.

O primeiro trabalho, publicado por Razzaque e Onishi no FACEB journal em 2010, utilizando ratos geneticamente modificados, observou menor longevidade e aumento significativo da velocidade de envelhecimento biológico com todos os seus sinais (alterações do sistema esquelético, perda muscular,  incoordenação de movimentos, disfunção hormonal, enfisema, etc) em ratos com maiores níveis de fosfato no organismo. 

O segundo trabalho, publicado no “Arteriosclerosis Thrombosis and Vascular Biology” em Junho de 2011, também utilizando cobaias alimentadas com dietas aterogênicas durante 20 semanas,  observou que o grupo de cobaias a quem foi fornecido maior quantidade de fosfato na dieta, formou maior quantidade de placas arterioescleróticas calcificadas na aorta. Este efeito foi independente de modificações no perfil lipídico dos animais, ou seja, não esteve associado a aumento do colesterol e suas frações no sangue. Segundo o  Dr Tim Chico, do Departamento de Ciência cardiovascular da Universidade de Sheffield(Reino Unido), esta descoberta abre novas perspectivas na prevenção da doença cardiovascular. “ O estudo sugere que reduzindo o nível de fosfato no sangue, podemos ter descoberto uma nova abordagem para reduzir a incidência de doença cardiovascular- afirma ele.

Pesquisa inédita feita pelo Ministério da Saúde mostra que o número de brasileiros que consome regularmente refrigerantes e sucos artificiais aumentou 3,4% em apenas um ano. Em 2008, 24,6% da população fazia uso da bebida cinco ou mais vezes na semana.  Em 2009, esse porcentual subiu para 27,9%. Refrigerantes também estão muito associados a obesidade e Diabetes.  A bebida, além de alto teor de açúcar, apresenta altas taxas de sódio - o que também aumenta o risco para hipertensão e para pacientes com problemas renais.



domingo, 24 de abril de 2011

Resveratrol: uma molécula com enorme potencial para saúde humana



O resveratrol  (3,4,5 trihidroxiestilbeno)é um fitoquimico polifenólico encontrado na natureza principalmente na casca de uvas escuras, vinhos tintos, amendoim e outras frutas de casca escura como amoras, mirtilo, jaboticaba, etc. O resveratrol é sintetizado  como um mecanismo de defesa da planta para se proteger frente a agressões mecânicas, radiação ultravioleta do sol ou ataques de insetos ou micróbios. Pesquisas realizadas com uvas e seus derivados como vinho, demonstram vários benefícios à saúde dos consumidores. Isto começou a partir da observação do chamado “paradoxo francês” que se explica pelo fato de os franceses, apesar de consumirem dietas notadamente ricas em lipídios, apresentarem incidência baixa de doenças cardiovasculares em relação a muitos de seus vizinhos europeus.

Uma pesquisa rápida no Google acadêmico com os termos em inglês: “resveratrol e saúde humana” retornará nada mais, nada menos que 29.800 resultados. Isto demonstra o grau de interesse que esta molécula tem despertado na comunidade científica. O que confere a este composto uma natureza peculiar é a grande abrangência de ações biológicas que ele exerce. Vamos tentar enumerar aqui resumidamente as principais:

1.  Ações cardiovasculares: 

O resveratrol apresenta potência antioxidante mais efetiva que as da vitamina C e vitamina E(conhecidos antioxidantes). Como antioxidante protege as células contra o dano oxidativo causado pelos radicais livres. Dentre os mecanismos pelos quais o resveratrol protege o sistema cardiovascular temos: inibição da oxidação do colesterol LDL(“colesterol ruim”), inibição da agregação plaquetária, diminuição da formação de mediadores inflamatórios(eicosanóides) e ação protetora do endotélio dos vasos, ajudando a manter a elasticidade e saúde das artérias. Por todas estas ações o resveratrol pode ajudar a reduzir o risco de doença coronariana, hipertensão arterial, aneurismas, fenômenos tromboembólicos, etc.

2.  Atividade Anticancerígena: 

O resveratrol possui atividade anticâncer contra tumores de diferentes linhagens celulares. Diferente das células normais, as células cancerosas proliferam rapidamente e são incapazes de responder aos sinais celulares que induzem ao processo de apoptose(morte celular programada). As pesquisas em laboratório tem observado que o resveratrol  é capaz de inibir a proliferação e induzir a apoptose em células cancerosas de diferentes linhagens celulares. Além deste efeito, o resveratrol também inibe outro estágio da carcinogênese chamado “angiogênese”. O que é isto? Ora, para o tumor crescer ele precisa formar rapidamente novos vasos sanguineos que garantirão suprimentos e oxigênio. A isto chamamos angiogênese.  

O resveratrol também apresenta afinidade pelo receptor estrogênico. Ocupando o receptor do estrogênio, ele funciona como antagonista para o 17B estradiol, levando a uma inibição do crescimento de células cancerosas da mama. Estudos clínicos estão no momento sendo conduzidos para verificar se o resveratrol pode ser benéfico também no tratamento do câncer.

3.  Longevidade:  

Um dos mais divulgados benefícios do resveratrol é sua capacidade de prolongar a vida de várias espécies biológicas, incluindo leveduras, moscas e mamíferos- em estudos de laboratório. Sabe-se que a restrição calórica extende o tempo de vida em várias espécies biológicas, inclusive os mamíferos. Inclusive, em postagem anterior “Restringir calorias para viver mais” já comentei sobre este assunto.
Recentemente os cientistas identificaram os genes que eles acreditam estar associados com a longevidade. Eles estão relacionados à produção de uma classe de proteínas chamadas Sirtuinas. De acordo com os achados de laboratório, o resveratrol pode ativar estes mesmos genes ativados pela restrição calórica promovendo a produção destas sirtuínas. Uma vez em ação, estas sirtuinas dão início a processos que ajudam a prolongar a vida, como diminuição do metabolismo, processos oxidativos e catabólicos. Estudos de laboratório com leveduras, comprovaram a ativação destas sirtuinas com prolongamento do tempo biológico de vida da ordem de 60 a 80%. Resultados semelhantes também foram obtidos em estudos com ratos. Não se sabe ainda se o resveratrol pode extender a longevidade de humanos.

4.  Outros Efeitos potencialmente benéficos do Resveratrol:

Embora os efeitos mais alardeados do resveratrol estejam relacionados à sua ação antienvelhecimento, estudos recentes estão ampliando este foco e mostrando que este potente antioxidante pode influenciar muitos aspectos da sua saúde, incluindo seu cérebro.  Resveratrol é único entre os antioxidantes porque ele pode cruzar a barreira hematoencefálica e ajudar a proteger o cérebro. Estudo recente publicado por pesquisadores do “Brain, Performance and Nutrition Research Centre at Northumbria University” é o primeiro a demonstrar que o resveratrol tem significativo impacto no aumento do fluxo sanguíneo cerebral. Após ingestão de 250 a 500 mg de resveratrol, os participantes do estudo experimentaram um aumento dose dependente no fluxo sangüíneo cerebral , que sugere que o resveratrol pode ter um papel importante na prevenção de doenças neurodegenerativas do cérebro.

Outra ação que também tem sido recentemente examinada em laboratório diz respeito ao potencial desta molécula em relação à obesidade e Diabetes. Está bem estabelecido que o resveratrol exerce efeitos benéficos em roedores alimentados com dietas hipercalóricas. Em alguns estudos, o resveratrol apresentou efeito significativo na redução do peso corporal e adiposidade de animais obesos. Esta ação envolve mudanças favoráveis na expressão de gens e atividades de enzimas. A evidência acumulada aponta para benefícios do resveratrol em diabetes mellitus e suas complicações. Sabe-se que o resveratrol afeta a secreção de insulina e a concentração de insulina plasmática. Ademais, numerosos dados indicam que em ratos diabéticos, resveratrol é capaz de reduzir a hiperglicemia. Este mecanismo de ação é complexo e foi demonstrado envolver efeitos insulino dependentes e independentes. Estes dados apontam para um possível potencial do usos do resveratrol na prevenção e tratamento tanto da obesidade quanto diabetes.

Fontes:

1. Szkudelski Tomasz; Szkudelska Katarzyna. Anti-diabetic effects of resveratrol. Annals of the New York .  Academy of Sciences 2011;1215():34-9


2.  Soleas GJ, Diamandis EP, Goldberg DM. Resveratrol: a molecule whose time has come? And gone? Clin Biochem. 1997;30(2):91-113.


3.  Aggarwal BB, Bhardwaj A, Aggarwal RS, Seeram NP, Shishodia S, Takada Y. Role of resveratrol in prevention and therapy of cancer: preclinical and clinical studies. Anticancer Res. 2004;24(5A):2783-28.


4.  Jang M, Cai L, Udeani GO, et al. Cancer chemopreventive activity of resveratrol, a natural product derived from grapes. Science. 1997;275(5297):218-220. 


5.  Bowers JL, Tyulmenkov VV, Jernigan SC, Klinge CM. Resveratrol acts as a mixed agonist/antagonist for estrogen receptors alpha and beta. Endocrinology. 2000;141(10):3657-3667.


6.  Donnelly LE, Newton R, Kennedy GE, et al. Anti-inflammatory effects of resveratrol in lung epithelial cells: molecular mechanisms. Am J Physiol Lung Cell Mol Physiol. 2004;287(4):L774-783.

7.  de la Lastra CA, Villegas I. Resveratrol as an anti-inflammatory and anti-aging agent: mechanisms and clinical implications. Mol Nutr Food Res. 2005;49(5):405-430.

8.  Pace-Asciak CR, Hahn S, Diamandis EP, Soleas G, Goldberg DM. The red wine phenolics trans-resveratrol and quercetin block human platelet aggregation and eicosanoid synthesis: implications for protection against coronary heart disease. Clin Chim Acta. 1995;235(2):207-219.


9.   Valenzano DR, Terzibasi E, Genade T, Cattaneo A, Domenici L, Cellerino A. Resveratrol prolongs lifespan and retards the onset of age-related markers in a short-lived vertebrate. Curr Biol. 2006;16(3):296-300. 


10.  Baur JA, Pearson KJ, Price NL, et al. Resveratrol improves health and survival of mice on a high-calorie diet. Nature. 2006;444(7117):337-342. 


11.  Fremont L. Biological effects of resveratrol. Life Sci. 2000;66(8):663-673. 

sábado, 5 de março de 2011

Até quando vamos tratar a medicina como um simples negócio?


Carta enviada pelo médico Angelov, de Boston, Massachusetts, EUA:

O que há de errado com a modernização do seguro médico?

35% do pacote de estímulo econômico destinado a impulsionar a economia dos EUA, está indo para a indústria médica, pois ela é um dos setores mais atingidos pela crise financeira. As taxas de seguros  têm subido, mas a renda das pessoas certamente não. Assim,  muitas já não podem pagar consultas médicas ou medicamentos. Isso é ainda pior para os desempregados, que perderam o seguro de saúde por inteiro.

O governo vem tentando salvar a situação, mas, infelizmente, está utilizando as mesmas medidas que ocasionaram  a indústria médica a entrar em crise a princípio: a atribuição de fundos para os egos das pessoas. Mas os nossos egos causaram a crise! Como assim?

Os egos das pessoas e seu desejo de ganhar cada vez mais dinheiro, tornaram-se mais importantes do que o relacionamento saudável entre médico e paciente. A medicina moderna é executada pelo princípio do lucro: não  pela eficácia em auxiliar os doentes, mas sim no quanto de lucro ela traz a todos os envolvidos.

Os médicos ganham dinheiro com as doenças de seus pacientes e procedimentos médicos e, portanto, têm pouca motivação para curá-los, e os pacientes, por sua vez, buscam oportunidades para processar os médicos por imperícia. Não há confiança entre eles, uma vez que o sistema médico atual inteiro gira em torno de dinheiro, ao invés de cuidar do paciente e de sua saúde.

A Indústria Médica não Foi  Sempre Desse Modo

Na China antiga, há 4000 anos atrás, todas as manhãs, um curandeiro passava por todas as casas da aldeia. Um vaso era colocado junto à entrada de cada casa, com uma moeda para o curador, significando que todos naquela casa estavam saudáveis. Se o vaso estivesse vazio, isso significava que alguém na casa estava doente. O curador entrava e tratava o doente o melhor que podia, e as ervas, agulhas e outros suprimentos médicos eram pagos pela moeda que não havia sido colocada dentro do vaso. Em seu tempo livre, o curador também ia às casas das pessoas para se certificar que suas dietas e estilo de vida eram saudáveis.

Naquela época o sistema de saúde era completamente diferente do que é hoje. As pessoas pagavam para ajudar a manter aos outros saudáveis, e a pessoa que estava doente não tinha que pagar.

Isso Poderia Funcionar Hoje?

Claramente, a medicina tem que deixar de ser um negócio. Hoje, os salários dos médicos dependem do número de doentes que têm, do número de procedimentos médicos que realizam, e se os hospitais estão cheios de pacientes doentes. O sistema é estruturado de forma que os  médicos lucrem mantendo os pacientes doentes pelo maior tempo possível! No entanto, não deveria a sua primeira e principal preocupação ser manter o paciente saudável?

Contudo, podemos realmente retornar para o sistema do "Bom Samaritano" dos tempos antigos? Não, nós não podemos, porque naquela época, os egos das pessoas eram muito menores do que hoje. Além disso, o problema é global e não local. Nessas circunstâncias, a única maneira de criar um sistema médico saudável, é através de uma solução global que se destine aos egos das pessoas de hoje.

Se a sociedade como um todo pagar pela saúde, ao invés de doença, os médicos terão incentivo para impedir a ocorrência de doenças em primeiro lugar. Então, a saúde das pessoas irá melhorar e as despesas de saúde irão diminuir.

O dinheiro deveria ser retirado da relação médico-paciente. Um médico deveria receber  uma punição administrativa, e não monetária, pelos erros que comete, e o paciente não deveria exigir uma compensação monetária por meio do tribunal. Além disso, a única forma de compensação que ele deveria receber, seria o tratamento.

Em latim, "doutor" significa "professor." Então, o médico é alguém que deveria ensinar as pessoas como viver sem ficarem doentes! Quão diferente é esta definição do nosso  atual sistema médico e egoísta!?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

6 atitudes não farmacológicas para melhorar sua imunidade


A população tem sido constantemente assustada pela mídia em relação ao crescimento das doenças infecto-contagiosas em nosso país e no mundo. Gripe H1N1, Influenza, AIDS, superbactéria KPC, tuberculose pulmonar, meningite, etc, são muitas as ameaças invisíveis que atormentam o imaginário popular. O que fazer com esta situação? Será que não existe outra atitude a ser tomada exceto esperar pela próxima vacina “salvadora”, ou pela novo antiviral “revolucionário”, ou pelo mais “potente” antibiótico de última geração da indústria farmacêutica que vai eliminar de vez com os perigosos patógenos ?

Em postagem anteriormente publicada neste blog, expliquei aqui como Pasteur, microbiologista francês que viveu no século passado, pai da chamada teoria do germe, influenciou decisivamente o modelo de medicina que é praticada hoje ao atribuir aos germes a responsabilidade exclusiva pela maior parte das moléstias que nos afligem. Com isto, a importância do chamado “terreno biológico”, ou seja, o ambiente que interage com o germe facilitando ou inibindo sua proliferação no organismo foi praticamente esquecida ou deixada para segundo plano. Ora, os humanos possuem em seus organismos 10 vezes mais bactérias que células humanas. Se houvesse um meio de eliminar todos os germes que vivem em nós e interagem conosco, qual seria o resultado mais provável?  Morte. Por isso, o que precisamos é interagir adequadamente com estes germes através de um sistema imunológico competente e saudável.

Pensando nisto, baseado na literatura científica e em minha experiência clínica, enumero algumas medidas não farmacológicas que podem melhorar significativamente seu sistema imunológico aumentando seu nível de proteção contra doenças infecto-contagiosas. 

1. Mantenha uma atividade física regular

Se você quer melhorar seu nível de imunidade, evite o sedentarismo. Elevar sua freqüência cardíaca durante pelo menos 3 vezes por semana, durante pelo menos 20 minutos está associado com aumento da atividade imunológica. A atividade física regular e adequada aumenta os níveis de leucócitos circulantes (células de vigilância imunológica) e diminui a liberação dos hormônios do stress(cortisol, adrenalina, etc) que são sabidamente imunodepressores. Também tem sido demonstrado que exercícios cardiovasculares moderados , como caminhar ou andar de bicicleta, podem atenuar o declínio imunológico que acompanha o envelhecimento biológico. 

2. Evite o Sobrepeso/Obesidade: 

Em termos gerais, os dados clínicos e epidemiológicos apoiam a evidência que a incidência e severidade de doenças infecciosas específicas são maiores em indivíduos obesos em comparação  com indivíduos normais. Engordar também aumenta o risco de desenvolver doenças relacionadas, como diabetes, câncer e doença cardiovascular. Em parte, isto pode ser explicado pelo fato como o excesso de células adiposas afetam o sistema imunológico. O acúmulo exagerado de gordura (principalmente a gordura visceral, aquela que se acumula na linha da cintura) dispara um aumento na produção de mediadores químicos inflamatórios, levando o organismo a um estado “próinflamatório(veja aqui os perigos da inflamação oculta), o que aumenta a chance de injúria tecidual e limita a ação do sistema imunológico. Estudos em animais têm mostrado que cobaias obesas ou com sobrepeso formam menos anticorpos quando vacinadas. Os anticorpos são utilizados como medida para a resposta imunológica à vacinação.

3. Reduza (o máximo possível) o consumo de açúcar, carboidratos simples, gordura saturada e gordura trans

O açúcar e alimentos açucarados põem imobilizar por várias horas a atividade de nosso sistema imunológico. Em post anterior, apontei trabalho que demonstrou como o consumo de apenas 100g de carboidratos na forma de glicose, frutose, amido, mel e até suco de laranja podem reduzir significativamente a atividade fagocítica dos leucócitos por um período de até 5 horas. O açúcar e os carboidratos refinados também interferem no sistema imunológico através de seus efeitos no intestino. Estes alimentos provocam desequilíbrios crônicos na flora intestinal (Disbiose). 80% de nosso sistema imunológico se localiza no intestino. Desequilibrios no delicado balanço microbiológico da nossa flora intestinal podem prejudicar significativamente o desempenho do sistema imunológico contra os patógenos invasores. Dietas ricas  em gordura saturada e gordura trans também são deletérias para nosso sistema imunológico.

4. Aumente a ingestão de alimentos prebióticos e probióticos. 

O termo prebiótico é utilizado, para designar ingredientes alimentares não digeríveis que beneficiam o hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade de uma ou um número limitado de espécies bacterianas no cólon. Os dois prebióticos mais estudados são os frutooligosacarideos(FOS) e a inulina. São tipos de carboidratos presentes em vegetais como cebolas, alho, aspargos, alcachofra, chicória, tomates, banana, etc. Analisando os hábitos da população geral, estima-se o consumo de FOS em torno de 800 mg/dia, enquanto que a recomendação é para ingerir 2 a 6 g/dia.
Já os probióticos são bactérias que produzem efeitos benéficos no hospedeiro, usados para prevenir e tratar doenças, como promotores de crescimento e como imunoestimulantes. Na atualidade, os alimentos probióticos disponíveis no mercado são iogurtes, leites fermentados e Kefir. Os probióticos também podem ser administrados terapêuticamente em forma de cápsulas ou sachês.

5. Mantenha um nível ótimo de vitamina D:


Quando foi descoberta, a vitamina D foi chamada de "vitamina" porque estávamos olhando apenas para os seus efeitos na absorção do cálcio e mineralização dos ossos. Contudo, com o que se sabe hoje, esta vitamina mais adequadamente deveria receber o nome de hormônio. A vitamina D depende da luz solar para sua síntese e ativação. Exerce ações em múltiplos tecidos e células e participa da regulação de mais de 200 genes. As células do sistema imunológico possuem receptores para vitamina D. Uma das principais armas do sistema imunológico contra vírus e bacterias é o chamado linfócito T. Acontece que os nossos linfócitos T dependem da vitamina D presente no organismo para se tornarem ativos e promoverem suas atividades contra estes patógenos.
Em post anterior escrevi como níveis baixos de vitamina D podem estar associados a incidència aumentada de infecções, particularmente infecções respiratórias. Hoje, parece estar havendo uma deficiência generalizada de vitamina D na população. Grande parte das pessoas vive a maior parte do dia encerradas entre quatro paredes. A midia, por vezes, superenfatiza os maleficios para a pele da radiação ultravioleta do sol. Não podemos nos esquecer que é o sol que torna possivel a vida neste planeta.


6. Manter um estado nutricional adequado é fundamental:

É sobejamente conhecido o fato de que indivíduos desnutridos têm maior risco para doença infecciosa devido a uma resposta imune inadequada. Infecção eleva o nível de inflamação no organismo, que contribui para piorar o estado nutricional. É o chamado "ciclo vicioso". O resultado de certas doenças infecciosas, incluindo HIV e tuberculose pulmonar, são piores quando o paciente está desnutrido. A desnutrição proteico-calórica tem significativos efeitos negativos em vários componentes do sistema imunológico. Estudos tem mostrado diminuição de função em vários orgãos do sistema imunológico (timo, baço, gânglios linfáticos) em indivíduos desnutridos.

Além dos papel dos macronutrientes(proteinas, carboidratos e gorduras), outros nutientes como vitaminas, minerais e micronutrientes também desempenham papel crucial para manutenção da imunocompetência. Entre estes citamos, a vitamina A, beta caroteno, ácido fólico, vitamina c, B12, B6, vitamina E, Ferro, zinco, magnésio e selênio. Os nutrientes antioxidantes, por exemplo, desempenham um papel fundamental no balanço entre antioxidantes/oxidantes nas células imunológicas, ajudando assim a protegê-las contra os radicais livres (stress oxidativo),que podem desajustar suas funções.



Não posso deixar de citar aqui o papel fundamental de alguns fitoquimicos encontrados em vários alimentos. A alicina e outros compostos sulfurosos do alho, com propriedades antibacterianas, antifúngicas e antivirais conhecidas; Os gingerois do gengibre, que além do importante efeito antiinflamatório(inibidor COX-1 e COX-2), podem também ser útieis contra doenças infecciosas como as causadas pelos estafilococus aureus, agente comum em várias infecções, desde uma simples infecção de pele até uma doença grave como pneumonia, meningite, osteomielite, endocardite e septicemia. O gengibre tem a habilidade de aumentar a eficiência de várias drogas antimicrobianas(como as tetraciclinas e penicilinas) contra infecções contra estafilos. Cito também os compostos imunoestimulantes como o lentinan e beta glucans encontrados em  cogumelos Shiitake , Agaricus e outras espécies.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O PARADOXO ISRAELITA: Por que os israelitas estão consumindo mais gordura vegetal (ômega 6) e estão morrendo mais de doença cardiovascular, câncer e diabetes?

Os israelitas aparentemente estão fazendo tudo certo, conforme as recomendações vigentes do "establishment" médico. Segundo dados do país, os israelitas estão consumindo dietas com valor calórico total dentro do recomendável, com baixo conteúdo de gorduras (tanto gordura total quanto gordura saturada) e alto conteúdo de ômega 6 (gordura vegetal), a quem é atribuido o efeito de "baixar o colesterol". No entanto, o que vem ocorrendo em Israel? Inesperadamente, as taxas de incidência das chamadas doenças do mundo moderno(Obesidade, Doença cardiovascular, Diabetes e câncer) têm atingido as mesmas proporções dos EUA, "campeões mundiais" nestas modalidades. Como explicar este fenômeno? Evidências científicas recentes têm advertido que o excesso de ingetão de gordura tipo ômega 6(óleos de soja, girassol, milho, etc) pode ser prejudicial à saúde: estes ácidos graxos podem elevar o risco de hiperinsulinemia e desordens metabólicas associadas, aterogênese e câncer.

Israel é um dos maiores importadores(per capita) de óleo de soja. Os restaurante israelitas, empresas de alimentos processados e panificadoras usam quase que exclusivamente este tipo de óleo. Óleo de soja é rico em ômega 6. De acordo com o paradigma corrente, a gordura poliinsaturada dos óleos vegetais deveriam estar diminuindo a incidência de doença cardiovascular dos israelitas. Cidadãos israelitas não judeus apresentam incidências de doença cardiaca, câncer e diabetes significativamente menores que a dos cidadãos judeus. Os não judeus consomem mais azeite de oliva(baixo em ômega 6) que óleo de soja.  "Substituir gorduras saturadas(de origem animal) por gorduras insaturadas(tais como ômega 6 de origem vegetal) é uma maneira segura, provada e deliciosa de diminuir as taxas de doença cardíaca", escreveu Walter Willett, epidemiologista de Harvard. O "paradoxo" israelita está mostrando que esta maneira de reduzir doença cardíaca pode ser qualquer coisa, menos "provada" e segura.

Em post anterior, escrevi aqui como o excesso de consumo de gordura ômega 6(como acontece de regra nas sociedades modernas) pode causar um desequilibrio na relação ômega 6: ômega 3 influenciando a formação de mensageiros quimicos inflamatórios(eicosanoides), deixando o organismo em um estado "próinflamatório". Ora, o que é que doença coronariana, diabetes e câncer têm em comum? inflamação.

FONTES:

1. Isr J Med Sci. 1996 Nov;32(11):1134-43. Diet and disease--the Israeli paradox: possible dangers of a high omega-6 polyunsaturated fatty acid diet.

2. Isr Med Assoc J. 2004 Feb;6(2):82-7.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Reflexões sobre comida e Espiritualidade



Há algum tempo venho alimentando o desejo de escrever algo a respeito deste assunto.
De maneira nenhuma pretendo esgotá-lo neste post. Pretendo voltar a ele em outra ocasião.
Fala-se muito que a mola que move o mundo é o dinheiro. À primeira vista parece até ser verdade. Se, contudo, aprofundarmos um pouco a nossa compreensão, veremos que não é bem assim. Vou contar o que é que move o mundo: a FOME. O dinheiro é apenas um meio para satisfazer a “fome” (desejo de obter prazer). Embora a fome seja um fenômeno universal, quero abordá-la a partir da experiência de Jesus de Nazaré no deserto da galiléia. Esta história encontra-se descrita no evangelho segundo Mateus capitulo 4: versos 1 a 11. Permitam-me aqui reproduzir parcialmente o texto:


“1 Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo.
2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.
3 Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães.
4 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.


Este texto é riquíssimo em ensinamentos, porém vou me ater aqui ao que considero essencial:
Quando o comer deixa de ser um ato puramente instintivo e animal e passa a se tornar um ato espiritual? Quando isto é feito com CONSCIÊNCIA. Mas  a que consciência me refiro?

1. Consciência de quem você é e quem é o seu provedor:

Vemos no texto, que a abordagem do interlocutor de Jesus designado de Diabo (do grego Diabolos=enganador), começa invariavelmente tentando plantar a dúvida “Se és filho de Deus....”  Jesus tinha plena convicção de quem ele era e da sua conexão com o criador. Enquanto não se atinge esta iluminação, somos conduzidos a reboque dos nossos apetites inferiores. Vivemos neste mundo o dualismo entre o ser animal, que nos identifica com a natureza, e o ser transcendente(à imagem e semelhança da divindade) que tem necessidades(e possibilidades) que ultrapassam os domínios da matéria.  Neste sentido holístico, podemos afirmar que tudo no universo provém de Deus e é nutrido por ele.  A força cósmica divina, manisfesta através de energias de vários níveis de densidade nutre e mantém tudo no universo. Aquilo que comumente chamamos de “pão”, elementos do reino vegetal e animal dos quais nos alimentamos, são apenas manifestações mais densas desta energia.  A luz solar, o oxigênio, as energias eletromagnéticas da terra são também exemplos de princípios nutridores pelos quais somos mantidos.  A conseqüência prática desta consciência arraigada no ser humano é uma só:GRATIDÃO.


2. Consciência daquilo que é bom e está alinhado com o fluxo da vida.

No texto em questão, Jesus se vê diante da possibilidade de transformar pedras em pães para aplacar sua necessidade. No entanto a rejeita por perceber que ao fazer isto estaria contrariando a ordem e as leis da natureza e a conseqüência disto seria MORTE. Contextualizando esta questão, nunca antes o ser humano teve tanto poder para transformar “pedras” em “pães” quanto nos dias de hoje. A humanidade tem alterado radicalmente o seu sistema de produção de alimentos e com isto tem também produzido profundos impactos em seu ambiente(planeta) e no seu próprio organismo.  Transgenia, Agricultura de larga escala baseada no uso de agrotóxicos, desmatamento desenfreado, poluição dos mares e rios, etc, são exemplos de como temos nos tornado peritos na arte de transformar “pedras” em pães.  Tudo em nome da fome. O resultado dessa transmutação alquímica está aí pra todo mundo ver: morte e destruição. O ser humano espiritualmente desperto sabe que um alimento não é apenas a soma de seus nutrientes. Cada alimento é um aglomerado de energias que produzirão vida se estiverem alinhadas com o fluxo da vida. Isto tem a ver com o modo como este alimento foi produzido e as energias “estranhas” que a ele foram acrescentadas no processo. Como diria nosso querido Tim Maia: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Estamos comendo muita “pedra” e chamando isto de pão.

3. Consciência  de que nossas escolhas determinam a saúde e equilíbrio do ser

O desafio comum que está posto para  todo ser humano hoje é o mesmo: manter-se integro e em equilíbrio em um mundo cada vez mais corrompido e desequilibrado. Não vamos conseguir isto sem o exercício da espiritualidade. Somos seres dotados de livre arbítrio(aspecto este que nos identifica com o criador). Temos o poder de mudar a nós mesmos e o nosso meio através de nossas escolhas. A forma como tratamos o nosso corpo é reflexo do nosso estado espiritual. A espiritualidade não ocorre no vácuo. È no contexto do corpo , do tempo-espaço e do universo material. A forma como alimento e trato o meu corpo, assim como, com que alimento a minha mente, são atitudes espirituais. Através delas atraímos luz ou trevas.

Hipócrates, mais de 400 anos antes de Cristo ensinava “seja o alimento o teu remédio.” Aquilo que comemos tem o poder de alterar o funcionamento de nosso corpo físico, a natureza de nossos pensamentos e até a expansão de nossa consciência. Um estudo de 2 anos conduzido por Steven Schoenthaler, PhD, publicado no Journal of Biosocial research, demonstrou que enquanto o americano médio consumia cerca de 56 kg de açúcar por ano, delinqüentes juvenis sob custódia consumiam mais de 130 kg por ano. Quando esta ingestão de açúcar foi significativamente reduzida, os fast food também reduziram, frutas e vegetais foram acrescentados em maior quantidade, houve uma redução de 48% nos comportamentos antisociais, incluídos aí crimes violentos, crimes contra a propriedade e fugas. Isto foi obtido simplesmente com uma mudança alimentar.

Somos seres livres para fazer as escolhas que quisermos. Também para viver com as consequências delas.